Dia 14 de dezembro faleceu Hermoneges Reis, antigo militante politico, membro do PDT. Deixa saudades e um exemplo de como se faz politica com seriedade, coerencia e perseverança.
Prestamos nossa homenagem através de depoimento da Professôra Satiê Mizubuti.
HERMÓGENES REIS
26.06.1926 14.12.2006.
HERMÓGENES REIS nasceu em São João do Paraíso, uma pequena vila no município de Cambuci, Estado do Rio de Janeiro, no dia 26 de Junho de 1926. Filho de uma família numerosa, seu pai era pobre, lavrador e vivia de administrações de fazendas. Logo, não era proprietário de terra.
Mudou-se de Cambuci para Italva; de Italva para Macaé e retornou para Cambuci, sempre em busca de novos trabalhos em outras fazendas. Seu pai, apesar de pouca instrução, tinha a consciência da necessidade da educação como instrumento de libertação de seus filhos e, em 1939, deixou mulher e filhos e veio para a cidade do Rio de Janeiro à procura de trabalho. Logo arrumou emprego no Loide Brasileiro e mandou buscar a família. Hermógenes chegou a Niterói, então, aos 13 anos de idade e foi terminar a escola primária. No ano seguinte, aos 14 anos, começou a trabalhar com carteira assinada, seu primeiro emprego formal.
Desde então, nunca mais parou. Passou pela Panair empresa de aviação onde começou a aprender o ofício de radio-telegrafista, e, nesse ramo se especializou e passou por outras empresas, até chegar à ECT (Empresa de Correios e Telégrafos), sobre a qual, sempre se referia com um certo orgulho.
No exercício de suas atividades profissionais, cedo engajou-se em movimentos de organização de sua categoria, em defesa do poder de compra do salário e pela melhoria das condições de trabalho. Tornou-se um ativista, um sindicalista militante sempre preocupado com o fortalecimento de sua classe e jamais defendeu interesses próprios, individuais. Logo começou a enfrentar as contradições de classe e sofrer perseguições. Nesse embate entre os interesses do capital e trabalho, aproximou-se do PCB (Partido Comunista Brasileiro), e nele militou por muitos anos, seja na legalidade, seja na clandestinidade.
Em 1964, com o advento da ditadura militar, foi perseguido, preso e passou por muitas dificuldades porque, por mais de uma vez, perdeu seus empregos, mas nunca abdicou de suas convicções ideológicas e políticas. A repressão fortalecia a consciência de classe em si e laços de solidariedade foram estabelecidos com seus companheiros (seus camaradas) que permaneceram amigos para todo o sempre.
No final dos anos 70, com a conquista popular da anistia, ampla geral e irrestrita, que propiciou a volta dos exilados políticos brasileiros retornou também Leonel Brizola que tendo perdido a sua sigla histórica o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) por ardilosas maquinações da então eminência parda do regime Sr. Golbery do Couto e Silva Brizola fundaria um novo partido, o PDT (Partido Democrático Trabalhista).
Quando de uma das grandes dissidências dentro do PCB, com a formação do PPS (Partido Popular Socialista) entre os anos 1970-1980, Hermógenes, discordando desse processo, havia saído do PCB, e nos primórdios do PDT, a ele se filiaria, com militância no Diretório Municipal de Niterói, o qual viria a presidir por uma gestão. Essa gestão foi marcada por uma práxis profunda de democracia interna, ocasião em que o PDT de Niterói viveu um espírito partidário. Desde sua entrada no PDT, sempre integrou o diretório municipal e, jamais abandonou seu espírito combativo e o exercício da crítica política. Tinha a política no sangue.
Nos anos em que o PDT foi governo municipal em Niterói, de 1989 a 2002, Hermógenes nunca ocupou cargo comissionado e jamais pediu cargos para seu filho (um) e filhas (quatro). Sua vida foi marcada por um profundo senso de justiça e, acima de tudo, de coerência e dignidade.
Eu o conheci em 1988, quando da primeira campanha de Jorge Roberto Silveira à Prefeitura de Niterói e minha primeira campanha á Câmara Municipal. Hermógenes estava engajado em outra campanha (do PDT), ambas vitoriosas. Lá permaneceu coerente, até a data da eleição (15.11.1988). No dia seguinte, por discordâncias de conteúdo político rompia com seu até então candidato. Isso despertou minha admiração e cedo nos aproximamos. Fomos nos conhecendo melhor e descobrindo grandes identidades de conduta, de crenças e de prática política e nunca mais nos afastamos por esses quinze anos.
Hermógenes Reis foi sempre para mim e para um grande número de amigos e seguidores, um exemplo de vida, uma referência de como fazer política sem sujar as mãos e, acima de tudo, um ícone do PDT.
Como um bom combatente, ele jamais desejou morrer, de pijama, sobre uma cama. Era seu projeto de vida, morrer na luta e, em 14 de dezembro de 2006, num anoitecer do verão que estava batendo á sua porta, saiu de casa para ir encontrar-se com uns companheiros no centro de Niterói para trocar umas idéias. Deve ter criticado esse movimento de aproximação do PDT, do Governo Lula, por exemplo, que já o estava atormentando na semana em curso.
Ao retornar para casa, por volta de 20:00, devagarinho certamente devido à sua dificuldade de visão e de locomoção que o afetavam nos últimos anos, ele sentiu-se mal, na rua, e traído pelo coração, faleceu. Nos deixou! Não morreu na contramão atrapalhando o tráfego. Morreu na mão, bandeira em punho, honrando a rua o local público por excelência! Partiu para outro plano e deve lá já estar confabulando com seus pares, como Brizola, Darcy Ribeiro e Luiz Carlos Prestes!
Saudades! Hoje é só saudades. Sou grata pelo muito que aprendi com ele. Foi um privilégio.
Satiê Mizubuti
Membro do diretório Municipal e Regional do PDT.
Professora da Universidade Federal Fluminense.
Uma resposta
Um tributo merecido a Hermógenes Reis, um militante do PCB e depois, do PDT, que deixou marcas exemplares por onde passou e por tudo que fez no campo da política.
Satie Mizubuti – revendo texto em 1º-04-2017.