Fala Felipe – Aniversário de Niterói

Dia 22 de novembro Niterói comemorou 433 anos de sua fundação. A data me levou a uma reflexão sobre a trajetória de nossa cidade nesse longo período de sua existência. Seus momentos de glória e decadência, períodos em que desempenhou papel importante na história de nosso Estado e de nosso País.

Também fez parte dessa reflexão a minha trajetória como cidadão e como vereador. Os momentos marcantes dos quais me orgulho de ter participado, do processo recente de transformação que Niterói passou nos governos do PDT sob a liderança de Jorge Roberto Silveira.

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Junto às comemorações dos 433 anos de Niterói, começou a passar um filme em minha cabeça. Invasão Francesa, Araribóia, Igreja de São Lourenço dos Índios, jesuítas, São Domingos e Praia Grande. A precária ligação a cidade do Rio de Janeiro através de pequenas embarcações. Os engenhos de açúcar, a pesca da baleia, a construção dos fortes e das igrejas.

Na cena seguinte, a vinda da Família real Portuguesa para o Brasil e as visitas de D. João VI a São Domingos. O desenho do arquiteto Arnaud Pallière, primeiro projeto de arruamento. A posse de José Clemente Pereira. O filme prossegue com imagens rápidas, a criação da Vila Real da Praia Grande, com as freguesias de São João de Icaraí, São Sebastião de Itaipu, São Lourenço dos Índios e São Gonçalo. Posteriormente a Vila foi promovida e passa a denominar-se Imperial Cidade de Nictheroy, titulo concedido em 1841 por D. Pedro II.

A construção dos primeiros estaleiros, o Barão de Mauá, o bombardeio da cidade durante a Revolta da Armada, nos deu o titulo de “Cidade Invicta”, porém, perdemos a condição de Capital da Província. Nosso primeiro grande revés.

Com a entrada no século XX, o filme começa a buscar mais detalhes. Fico imaginando a alegria ocasionada pela recuperação da condição capital do Estado. O acelerado processo de urbanização, obras de grande porte como a estação hidroviária, a abertura das vias litorâneas do Ingá a São Francisco e o aterro de São Lourenço para a construção do Porto de Niterói.

Várias obras de urbanização são realizadas com a abertura de ruas e avenidas e a retificação do traçado de vias já existentes. A cidade começa a ter sua configuração atual. A região Oceânica começa a ser ocupada. O Plano Estrutural de Itaipu, que suscitou forte polêmica, com debates acalorados entre setores da sociedade civil e técnicos da prefeitura. Fico imaginando a importância desse confronto em plena ditadura militar.

A inauguração da Ponte Rio-Niterói após décadas de discussão quanto a melhor forma de travessia: ponte ou túnel, causa um grande engarrafamento, paralisando toda a cidade.

Com boom imobiliário pós-ponte, muitas com casas foram demolidas, na região central e na zona sul, para a construção de edifícios de apartamentos e a ocupação da região Oceânica e Pendotiba foi intensificada.

Nessa epoca vem a fusão do Estado do Rio de Janeiro com o Estado da Guanabara, decisão tomada, em ouvir nenhuma das partes envolvidas. O governo militar, tirou de Niterói a condição de capital de estado. A população ficou perplexas. As compensações para minimizar os efeitos da perda de poder político não são suficientes e entramos em um período de forte decadência. Os reflexos são significativos na economia, na cultura e da qualidade de vida da cidade. Esse quadro se reflete também no espírito da população.
Vários postos de trabalho são fechados. Repartições públicas são transferidas para a cidade do Rio de Janeiro, muitas empresas fecham ou também se transferem para a nova capital.

Esse quadro se mantém até a ultima década, quando o PDT assume o governo da cidade e muda o cenário do município. Aproveita a autonomia dos municípios após a constituição de 1988 e promove uma revolução urbana em Niterói. A cidade que se encontrava suja e esburacada, recebe um banho de obras. Ruas são pavimentadas e varridas diariamente, sua rede de drenagem é recuperada, por limpeza dos rios e galerias e por obras que acabaram com enchentes em vários pontos críticos da cidade.

Nessa altura me vem a cabeça a rua Visconde do Rio Branco. Sujeira, camelos sem o menor controle, autos índices de assaltos a transeuntes, terminal de ônibus em estado lamentável e a cidade segmentada em parte norte dos pobres e sul da classe media.

O traçado da Rua é revisto, com a duplicação e o restabelecimento do transito em toda a sua extensão. É criado um canteiro central com jardim e nova iluminação. O ponto final dos ônibus é transferido para um novo terminal (João Goulart), com conforto e segurança para os passageiros e funcionários das empreses rodoviárias, projetos dos arquitetos João Sampaio e Sergio Magalhães, que recebeu um premio do Instituto de Arquitetos do Brasil -IAB.

Paro para pensar e decidir por que caminho o filme irá seguir. Vou para a Ponta da Areia e vejo a reforma de Portugal Pequeno, com sua edificações coloridas e o cais para os barco e os quiosques. Ou para o Teatro Municipal João Caetano totalmente restaurado e também com premio concedido pelo do Instituto de Arquitetos do Brasil. Se caminho em direção ao fundo do Terminal chegarei ao “Caminho Niemayer” conjunto de prédios projetados pelo nosso gênio da arquitetura. Se for em direção ao bairro da Boa Viagem, passarei pelo Museu BR de Cinema em construção e encontrarei o Museu de Arte Contemporânea, construções projetadas por Oscar Niemayer, sendo que o MAC se tornou ícone da arquitetura brasileira, com projeção internacional, se transformando em símbolo da Cidade.

Sigo pelo Ingá onde esta localizada a Secretaria Municipal de Cultura e a Fundação de Artes de Niterói, onde estão os projetos Niterói Livros, Niterói Discos, a Companhia de Balé de Niterói e uma infinidade de projetos culturais. Vou andando até o Jardim do Ingá – Praça César Tinoco, com seus jardins bem tratados, onde um grupo de idosos do Projeto Gugu fazem ginástica.

Pela orla continuo admirando a conservação, a limpeza e a iluminação de vapor de sódio. Vários grupos praticam esportes. Na beira da água varas de pescar estão espetadas na areia, pessoas nadando no mar que recuperou a balneabilidade. No final da praia de Icaraí contorno o Morro do Cavalão, favela da cidade que como muitas outras foi contemplada com programas municipais como o Médico de Família, Gari Comunitário, Criança na Creche e Vida Nova no Morro. Este último, urbanizou a comunidade, com pavimentação das vias, drenagem, contenção de encostas e rede coletora de esgotos.

Em São Francisco, passo em frente ao prédio da Neltur que promoveu diversos eventos turísticos e esportivo. Encontro mais um grupo de idosos do Projeto Gugu e passo por ciclistas e tri-atletas em treinamento. Olho para igrejinha de São Francisco Xavier, que teve seu altar restaurado. Em Charitas vejo quiosques com pessoas bebendo cerveja e comendo petiscos. Crianças do Projeto Grael preparam os barcos para velejar. No alto do morro o Forte São Luiz, abandonado por décadas, foi limpo e teve estrada de acesso recuperada, se incorporando ao circuito turístico da cidade.

Atravesso o moro da Viração e chego à região Oceânica. Agora com rede de abastecimento de água e com esgoto coletado. Começo a me lembrar das dificuldades do processo de municipalização desses serviços. Licitação, ações judiciais e o rompimento com o Governador Garotinho que não cumpriu a promessa de municipalização.

A região Oceânica vira um grande canteiro de obras.

Atravesso ruas sem pavimentação e outras já pavimentadas. Estradas que ligam a bairros antigos da cidade duplicadas e com boa pavimentação. Praias com quiosques cheios de turistas.

Volto ao mundo real. Estou em Niterói, ano de 2006, olho em volta e vejo a cidade funcionando, carros passando nas ruas arborizadas, semáforos e operadores de transito orientando o transito, pessoas caminhando pelas calçadas. Aparentemente tudo esta normal, mas não tem a mesma qualidade de antes. A manutenção não é mais a mesma, rede de drenagem obstruída causando alagamentos, a pavimentação esta fincando velha e desgastada, no passeio buracos e rachaduras.

Acostumados a um padrão de qualidade de serviços público, a população passa a ser exigentes e não aceita retrocesso. Apesar do atual governo procurar seguir o mesmo modelo de gestão das administrações do PDT, alguns serviços perderam qualidade e outros foram desativados.

A cidade não tem mais o glamour cinematográfico de poucos anos atrás.

Felipe Peixoto

Durante seus mandatos, Felipe aprovou mais de 100 leis e presidiu importantes Comissões, como a do Foro e Laudêmio e a da Linha 3 do Metrô. Como Secretário de Estado, Felipe foi responsável por inúmeras realizações e projetos que beneficiaram todas as regiões do RJ. 

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