O CCBB Rio está com uma belíssima exposição de mais de 200 peças de significativo valor histórico e artístico, que retratam o ciclo do ouro e o florescimento da arte barroca em Minas Gerais, além de ambientação que remete às históricas cidades mineiras de Congonhas do Campo e de Ouro Preto.
Sob a curadoria do crítico de arte Fabio Magalhães, a exposição contextualiza Minas Gerais no Brasil e no mundo, no século XVIII, e sua expressão artística máxima: o barroco brasileiro em Aleijadinho e seus contemporâneos.
Mostras de cinema e vídeo, série musical e palestras se juntam à exposição. Paralelamente, o CCBB Educativo oferece ao visitante, às escolas e aos grupos este rico e peculiar universo de nossa cultura, por meio de visitas às exposições, oficinas diversas e seminário para professores.
O CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) está localizado na Rua Primeiro de Março, 66 (Centro RJ) e ficará até 11 de fevereiro de 2007.
No VEJA MAIS um pouco mais sobre Aleijadinho e a dados da exposição.
Resumo Biográfico
Reconhecido mundialmente, Antônio Francisco Lisboa (1738/1814), o Aleijadinho, é considerado o Michelangelo do Brasil e comparado aos grandes mestres italianos, por produzir obras-primas do barroco sem nunca ter saído do país. O caráter altamente expressivo de suas esculturas, atribuído à influência da cultura africana por parte de mãe (ele era filho de um arquiteto português com uma de suas escravas), transcendeu a formalidade da escola européia. Suas esculturas são reconhecidas no exterior pelos traços faciais dinâmicos, dotados de teatralidade e caráter distintivo tão marcantes que lhe imprimiam o selo inconfundível da identidade cultural brasileira.
Na juventude, o artista contraiu uma doença que o deixou aleijado e, desde então, o obrigou a amarrar seus instrumentos de trabalho aos pulsos. Daí o apelido do grande mestre.
Por seu isolamento geográfico e pela quantidade de ouro encontrada no seu solo no século XVIII, Minas Gerais era o cenário fértil para o desenvolvimento de uma verdadeira escola barroca “brasileira”. Segundo o curador Fabio Magalhães, a religião teve um papel fundamental nas Minas Gerais:
“Embora o rei de Portugal tenha proibido a presença de ordens religiosas na região, temeroso do poder que elas poderiam exercer, a sociedade se organizou por meio das ordens terceiras, das irmandades, das confrarias. A rivalidade entre elas serviu como alimento à criação artística. Em decorrência, floresceu a plêiade de artistas, artesãos e músicos requisitados para dotar de esplendor o ofício religioso. Vila Rica (atual Ouro Preto) se transformou num “teatro barroco” da liturgia católica”, diz.
A exposição
O percurso da mostra – com 208 itens originais do barroco mineiro, entre estatuária, objetos sacros, oratórios, desenhos, mapas, peças de ouro e fotografias, distribuídos em 11 módulos – começa pelo térreo do CCBB com réplicas autorizadas, em bronze, de Isaías, Abdias, Ezequiel e Joel, do conjunto dos 12 profetas instalados em Congonhas do Campo, Minas Gerais.
No segundo andar, o visitante percorre o contexto histórico e geográfico do século 18. O segmento “O lugar, o território, a época” tem mapas e obras de artistas viajantes, como Rugendas, Thomas Ender, Von Martius, Debret, H. Muller e Maximilian Wied-Neuwied, que vieram ao Brasil em missões artísticas e expedições científicas.
Em seguida, o núcleo do “Ouro” reúne moedas, lingotes e objetos representativos da força econômica deste período.
A sala “Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho”, dedicada exclusivamente ao barroco brasileiro, inclui entalhes e fragmentos de entalhes, imagens de santos e relicários, todos originais, emprestados de coleções institucionais, religiosas e particulares do Brasil.
O circuito do segundo andar se encerra com um conjunto de oratórios do século XVIII.
O primeiro segmento do primeiro andar, “A devoção”, reúne fotos de Marc Ferrez e um ensaio fotográfico do francês Marcel Gautherot, realizado nos anos 50, nas cidades mineiras.
A Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, está presente com uma maquete inédita da feição original da mesma, feita a partir de várias fontes levantadas pela FAU-USP. Nas paredes desta sala estão desenhos da planta geral e de peças estruturais do templo assinadas por Aleijadinho. A porta da igreja é avaliada pelo crítico francês e conservador do Museu do Louvre, Germain Bazin, como a obra-prima do artista.
Entre 1772 e 1774, realiza-se a decoração em talha e estuque, comandada por Aleijadinho, período no qual ele fez os púlpitos em pedra-sabão. Esses púlpitos são suas primeiras obras documentadas como escultor de baixos-relevos em pedra-sabão.
Hoje, a Igreja de São Francisco de Assis é considerada um dos exemplos mais notáveis do barroco internacional. O que a distingue é a planta sem corredores na nave, o que integra mais os corredores da capela-mor ao resto da construção. As características da construção demonstram que o projeto arquitetônico do Aleijadinho privilegia o monumento com um todo, interna e externamente.
As torres em formas circulares são inéditas e a fachada tem grande efeito arquitetônico e ornamental. À esquerda do espectador, há um anjo sustentando uma cruz ornada, e à direita, outro anjo, com os braços estendidos, aponta para a composição central. Nesta, estão os brasões das armas franciscanas e do reino de Portugal. Na parte superior, a Virgem, de mãos postas. Entre os brasões e o medalhão está o braço estigmatizado de São Francisco, o braço de Cristo e a coroa de espinhos sobre a cena. Os brasões são arrematados por asas de anjos, flores de girassol e rosas, atributos de Maria.
Seguindo o percurso da mostra, o espectador transita sobre um piso de vidro, sob o qual está a reprodução da decoração das ruas das cidades históricas de Minas para as procissões. A trilha, composta por músicas de procissão, tem a assinatura do musicólogo Maurício Monteiro.
O próximo módulo é “Aleijadinho – vida e obra”, uma cronologia multimídia da trajetória do artista, contextualizada com a história do Brasil.
Chega a vez do conjunto da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo, Minas Gerais. A exposição traz “Os 7 passos da Paixão de Cristo” e os 12 Profetas em projeção panorâmica, com 81 imagens de grande escala das cenas da paixão, distribuídas em seis nichos, representando aqui as capelas que levam ao adro do Santuário de Congonhas. As projeções são acompanhadas por trilha sonora de composições da época. Ainda neste núcleo estão réplicas menores dos 12 Profetas.
As estações da Paixão – 66 imagens de cedro realizadas entre 1796 e 1799 – representam a Ceia, Jesus no horto, a prisão, a flagelação e a coroação de espinhos, a cruz às costas e a crucificação. Aos pintores Manuel da Costa Ataíde e Francisco Xavier Carneiro coube a policromia das esculturas.
O complexo de esculturas dos “Passos”, junto com os 12 Profetas, em pedra-sabão, é considerado o mais importante exemplo de barroco fora da Europa. O Aleijadinho leva o espectador além do realismo e do teatral. A representação dos rostos e das mãos das figuras do drama sacro são únicos, distintos dos variados estilos expressionistas da história, os quais o artista não tinha como conhecer.
Encerra a exposição um conjunto de ex-votos (pintura sobre madeira) do século XVIII e peças de contemporâneos do Aleijadinho, como Mestre Piranga, Francisco Xavier de Brito, Mestre Ataíde e Francisco Vieira Servas, e de anônimos, no módulo “Mestre do Barroco em Minas Gerais”.
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