O dia 11 de setembro foi marcado pelas homenagens às vitimas do ataque ao World Trade Center. Ao longo da semana, o noticiário brasileiro repercutiu a tragédia americana que culminou com a cobertura especial de ontem.
Eu sou um pacifista. Rejeito qualquer tipo de conflito para solucionar uma questão. Eu acredito no poder do diálogo e das ideias. Por isso, lamento profundamente o ocorrido e as mortes das pessoas envolvidas.
Contudo, ao assistir à TV, não pude deixar de lembrar Brizola e suas observações sobre os Estados Unidos. Certamente, se ele estivesse vivo, estaria no próximo programa nacional do partido chamando a atenção dos brasileiros para a espetacularização da mídia sobre o evento.
Os ataques terroristas foram, sem dúvida, algo surpreendente e têm sua relevancia para o mundo. Mas quando uma história é vista somente pelo seu lado emocional, desviando o foco para as vítimas, embarcamos no discurso norte-americano de soberania. Devemos saber separar as coisas. A cerimônia de ontem foi um espetáculo para americanos. Enquanto choram os seus mortos, enviam uma mensagem ao planeta de que eles ainda são unidos e fortes.
Além desse evento, os ataques de 11 de setembro já viraram tema de filme, documentário e livros propagados internacionalmente. Nada tão grandioso e emocionante foi feito para lembrar, por exemplo, as vítimas dos norte-americanos na sua busca desenfreada por poder.
Quantos filmes de abrangência mundial sobre as ditaduras brasileiras e chilenas nós já vimos? Quantos especiais de televisão existem que tratam do financiamento americano aos radicais xiitas do Iraque na década de 80 para controlar o petróleo? Quantos livros viraram best-sellers ao relatar o apoio ao Afeganistão, na mesma época, para conter a expansão russa na Ásia? Por acaso essas temas estiveram presentes no nosso noticiário na última semana? Eu não vi.
Centenas de milhares de mortes ocorreram em função desse jogo de soberania e não podem ser relegadas a segundo plano. Não podemos nunca esquecer as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, os conflitos na América Latina, o Vietnã e a África miserável. Sem falar as guerras ainda em curso no Iraque e no Afeganistão.
Eu cresci ouvindo a máxima de quem planta o bem, colhe o bem. Não há meios de conquistar a paz se não for dessa maneira. É muito melhor ter aliados a adversários. Trabalhar pelo consenso a impor a força. Vivemos um período no qual os EUA estão enfraquecidos muito mais pela crise econômica que eles mesmos criaram do que pelos ataques às Torres Gêmeas. Eles deveriam aproveitar esse momento para construir um novo tipo de relação com os povos, de preferência sem arrogância, sem guerras e sem preconceito.