Monitoramento feito pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), na Baía de Guanabara, relevou o pior resultado desde 2014, quando teve início a série histórica do estudo. A triste saga da poluição de uma das paisagens mais belas do país parece não ter fim, com muitas promessas e, quase sempre, mais retrocessos do que avanços.
Segundo dados do estudo do Inea, referente ao biênio 2020/2021, sete dos 20 pontos analisados pelo levantamento tiveram resultados de amostras considerados ruins e 13 dos 20, classificados como péssimos. Nenhum sequer chegou a regular.
São levados em conta na verificação 15 parâmetros físico-químicos e biológicos das águas, entre os quais a presença de coliformes fecais e de fitoplânctons, microrganismos indicadores da presença de poluição.
Diante do resultado, não é difícil concluir que o despejo de esgoto das 16 cidades que compõem a bacia hidrográfica é a principal causa da poluição ambiental no espelho d’água. Dessa vez, até mesmo o ponto de monitoramento externo próximo à boca da baía, já em área oceânica, teve seu resultado considerado ruim.
A baía tem um canal central profundo que favorece – ou, pelo menos, deveria favorecer – a troca de água com mar de forma intensa, diluindo a sujeira. Obviamente, não está dando certo.
Não podemos simplesmente esperar… Temos que cobrar providências!
Situação crítica em Itaipu
Vou falar agora da minha cidade, Niterói, onde o resultado também surpreendeu negativamente. O município registrou, pela primeira vez, uma média considerada péssima. Nos cinco levantamentos anteriores, o resultado foi considerado regular por três vezes, uma vez bom e outra, ruim.
A degradação da Lagoa de Itaipu ficou evidente no começo de julho, quando a ligação entre o espelho d’água e o mar ficou completamente assoreada. Esse assoreamento, que, segundo técnicos do município, foi causado pela dinâmica das marés e ondas no canal, modificou até a paisagem. Chegou a se formar uma praia contínua a Camboinhas e Itaipu, deixando lodo aparente bem às margens da lagoa e mau cheiro.
Sem resposta imediata da Prefeitura de Niterói, os pescadores, com receio de que houvesse mortandade de peixe e consequente prejuízo a seus negócios, tentaram abrir a passagem por conta própria, com pás e equipamentos improvisados. Diante da pressão da opinião pública e publicação de reportagens, o governo municipal enviou equipes e retroescavadeiras para, finalmente, em caráter emergencial, restabelecer a passagem da água.
Depois do mal instaurado, a Empresa Municipal de Moradia Urbanização e Saneamento (Emusa) promete lançar ainda este mês um edital para contratação que permita a construção de uma nova estrutura, capaz de garantir a troca de água entre a lagoa e o mar de forma mais eficaz.
A prefeitura, agora, também planeja construir novos enrocamentos, com blocos de rocha compactados, que impeçam a ação das ondas e o depósito de areia no canal.
Vale lembrar que, anteriormente, o Ministério Público já notificara a Prefeitura de Niterói e o Instituto Estadual do Ambiente recomendando providências para a revitalização e recuperação do Canal do Camboatá, na Região Oceânica.
Segundo o documento, seriam necessárias ações para melhorias das condições do canal, incluindo a prevenção de despejo indevido de lixo. Uma vistoria do MP realizada em fevereiro apontou a importância do Canal do Camboatá para a renovação hídrica das lagunas de Itaipu e Piratininga.
Até quando? Estamos atentos à ação da gestão do município e cobraremos soluções que atendam às necessidades dos pescadores e à população, que merece águas limpas, natureza saudável e qualidade de vida.