Quando era garoto e estudava a história nacional, sempre imaginava como poderia ter sido o destino do Brasil se não houvesse acontecido o Golpe Militar em 64. E que tipo de governo teria realizado João Goulart se ele tivesse executado suas ideias reformistas em benefício dos pobres e dos trabalhadores.
Jango foi um político único que tentou proporcionar, numa época de radicalizações entre esquerda e direita, um governo de coalisão a favor do Brasil. Democrata, nacionalista e desenvolvimentista, João Goulart era um político de seu tempo. Governou inspirado pelas políticas europeias onde o Estado era interventor e planejador da economia e pelo sucesso da industrialização socialista. Visitou a China e afirmou parcerias com os americanos em um momento que o mundo assistia a polaridade econômica. Queria um país independente e evoluído.
O governo Goulart defendia o povo brasileiro. Primava pela autonomia, “a intervenção do Estado na economia e nas relações entre patrões e assalariados, a manutenção e a ampliação dos benefícios sociais aos trabalhadores, a reforma agrária e a liderança política partidária de grande expressão”. Tudo de maneira legal, dentro da Constituição vigente na época. Um processo interrompido de maneira covarde pelos militares que mandaram para o exílio e para as salas de tortura, não só ele como os seus aliados e muitas outras mentes inovadoras que colaboravam para a construção de uma nação.
Jango foi taxado de populista, ridicularizado e esquecido. E, agora, lembrado por Jorge Ferreira, professor de História do Brasil da Universidade Federal Fluminense, em seu livro “João Goulart – Uma Biografia”. O trabalho estampou a capa do caderno Ilustrada do jornal Folha de S.Paulo do dia 17 de julho.
O autor defende que Jango foi o último presidente legítimo a manter relações reais de identificação com a sociedade, especialmente com os trabalhadores.
Por isso, acredito ser o livro importante. Porque ele traz à luz a vida de um líder que tinha, há 50 anos, propostas as quais estamos lutando para fazer valer hoje. É fazer justiça a um personagem relevante de nossa história que se tivesse tido apoio, poderia ter transformado o país e entregado à nossa geração um Brasil muito diferente.