Quem assistiu à entrevista de Fernando Henrique Cardoso ao Fantástico? Quem ainda não sabe, o ex-presidente da república é âncora de um documentário que traz o debate sobre o uso de drogas. Não há dúvidas da repercussão que este filme terá. FHC é uma personalidade, um líder.
A força de sua imagem aliada a sua formação de sociólogo são garantias de que as questões levantadas no documentário serão ouvidas pela população. Aliás, ser sociólogo foi um dos princípios que assegurou a sua vitória nas eleições de 1994. Todos acreditaram que isto lhe creditava alguma sensibilidade para identificar e sanar os problemas do povo. Só não foi suficiente para aproximá-lo dele.
Não vou discutir aqui modelo de gestão. O que foi ou o que deixou de ser. Até porque, sou suspeito. Quero questionar aqui a nova estratégia da oposição. Oposição? Não. Estratégia do PSDB. PSDB? Não. FHC. Pois é. Porque no Brasil, até o momento, não existe uma oposição organizada. Eles não se entendem entre eles mesmos. Inclusive dentro do PSDB.
Em abril, FHC escreveu para a revista Interesse Nacional um artigo em que defende uma nova forma de atuação da oposição. No texto, FHC conclui o que a esquerda faz há muito tempo: “é preciso buscar novas formas de atuação para que a oposição esteja presente, ou pelo menos para que entenda e repercuta o que ocorre na sociedade… Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito menos entre valores e interesses práticos”.
E define o foco a ser seguido: a classe média. Principalmente, os jovens usuários das redes sociais. E usar como mensagem as causas sociais como: a defesa dos direitos humanos, a ecologia e o combate à miséria e às doenças. Temas que o PSDB nunca convenceu ser a sua prioridade.
O ex-presidente tucano já vem desenhando esse discurso desde a derrota de Serra nas eleições do ano passado. Era nítido que o partido estava ficando envelhecido e com um discurso muito distante. E assumiu essa missão. Em fevereiro, no primeiro programa partidário do PSDB, ele apareceu em meio a uma roda de jovens, respondendo perguntas.
Agora, Fernando Henrique age à semelhança do ex-vice-presidente americano Al Gore e participa de um documentário de enredo polêmico. Sem entrar no mérito da importância do tema, o que vemos é uma tentativa da direita de estar visível para, de alguma forma, recuperar seu espaço.
Mas não adianta estar aparente nos cinemas e na televisão, e acessível na internet para conquistar a confiança da população. É preciso estar junto dela, ir até onde está, ser comprometido com suas demandas. A propósito como votou a bancada do PSDB sobre o Código Florestal? FHC defendeu a ecologia. Pelo visto, sua opinião é minoria dentro do partido.