A proibição do funk é uma ilegalidade que não pode ser aceita, principalmente, quando praticada por quem tem o dever de fazer cumprir as leis.
As manifestações culturais que surgem do povo são normalmente vistas por segmentos da sociedade e dos meios de comunicação como algo marginal e que deve ser tratado como caso de polícia. Tanto a antiga repressão ao samba, quanto à atual, ao funk, são – guardadas todas as particularidades históricas e culturais – duas faces da mesma moeda. São exemplos concretos de atuação repressiva do aparato do Estado na tentativa de enquadrar as manifestações culturais populares, originadas da resistência do negro e do pobre.
O funk e o samba são, antes de tudo, movimentos de resistência, afirmação de valores culturais e de criação de uma identidade social para os milhões de jovens moradores das comunidades populares Brasil a fora.
Portanto, os que hoje perseguem o funk reproduzem a mesma lógica racista e elitista dos que perseguiam a capoeira, as rodas de samba e as giras de umbanda e candomblé.
Inegável que ocorrem no “mundo funk” algumas práticas descritas como crime, o que é comum a todo grupamento social, inclusive na polícia, na política e na imprensa. O que não se pode, entretanto, é permitir que o Poder Público, de forma seletiva e violando a Constituição, generalize e persiga o funk, tratando todos os funkeiros como bandidos.
Afinal de contas, é interessante questionarmos, em que diferem os crimes praticados por alguns funkeiros dos crimes praticados por alguns pitboys, nas boates Zona Sul? Quais as providências do Estado com relação a esse último fenômeno, cada vez mais crescente e muitas vezes associado ao consumo de drogas sintéticas? Será que alguém pretende fechar as boates da moda…?
Essa diferença de tratamento está, infelizmente, ligada na cor da pele, na condição econômica dos delinquentes e de suas vítimas e no local onde residem. E causa revolta constatar que são tais “diferenças” que vêm pautando a atuação do Poder Público, que continua a tratar desigualmente os desiguais, buscando unicamente proteger os mais protegidos.
Felizmente, a lei estadual do Álvaro Lins (que está preso, diga-se de passagem) que impunha censura ao funk e contribuía para criminalizar a pobreza foi revogada. Precisamos, agora, mudar a cultura dos funcionários públicos responsáveis pela segurança, já que a Constituição garante o direito de qualquer um ouvir a música que quiser, desde que isso não viole o direito ao descanso e ao sossego das pessoas a sua volta. Isso se aplica às manifestações religiosas, às “festas de playboy” e ao funk.
Mudar essa cultura repressiva e ilegal é a tarefa que temos pela frente. Para isso acredito, antes de tudo, no diálogo e no respeito às diferenças. Lutar por isso é compromisso que assumo e pelo qual sempre trabalhei nos meus 3 mandatos parlamentares.