A emoção foi sem precedentes. Até o presidente da república chorou. Quando a cidade-sede das Olimpíadas de 2016 foi anunciada, a comoção foi tão grande que até o brasileiro mais indiferente foi obrigado a ceder um pouco da sua atenção para o que estava acontecendo. Nem a presença de Barack Obama, fato que tornou a já favorita Chicago ainda mais favorita, interferiu na festa tupiniquim: o Rio de Janeiro foi a cidade escolhida.
O tamanho do apoio popular à candidatura carioca tornou a festa uma conseqüência. Durante toda a sexta-feira, a população do Rio foi à praia para assistir aos shows promovidos pela prefeitura. O feriado municipal colaborou. A festa seguiu até tarde. A alegria ainda não parou.
Ganhar a disputa para sediar as Olimpíadas de fato foi uma grande injeção na auto-estima do nosso povo. E é mais um ingrediente num momento muito bonito da história do nosso país: economia crescendo (mesmo com crise global), maior destaque no cenário internacional e a sensação que a democracia está cada vez mais consolidada. O mundo reconheceu a capacidade do Brasil. Agora, no entanto, é preciso responder uma pergunta: que tipo de Olimpíada nós queremos?
Que este evento irá trazer investimentos públicos e privados para nossa região é fato notório. Sem muito esforço, é possível identificar setores que serão beneficiados, como o turismo (com o aumento de visitantes), a construção civil (com as obras do projeto) e o esporte de alto rendimento (com as novas instalações). O que nós não sabemos ao certo é em que medida esses ganhos irão colaborar com a redução das desigualdades sociais, com a melhoria do transporte coletivo e da saúde pública, que foi alvo de intervenção federal há muito pouco tempo.
Um evento dessa magnitude não pode ser subaproveitado. Levou mais de um século para os Jogos Olímpicos chegarem ao Brasil e certamente levará no mínimo mais algumas décadas para que voltem. É fundamental que utilizemos os Jogos para desenvolver a prática esportiva no país através de políticas de lazer e de inclusão social. É fundamental que os prédios construídos para o evento possam continuar sendo aproveitados depois. É fundamental que o aumento do fluxo turístico seja permanente, e que a nossa população seja qualificada para esses empregos.
Isto significa não apenas construir grandes arenas, mas construir praças esportivas e ginásios nas escolas. Isto significa não apenas patrocinar os atletas que já possuem grande visibilidade, mas principalmente incentivar projetos que garantam que outros ídolos continuem surgindo. A saúde pública é outra questão essencial: de que adianta incentivar a prática esportiva nas escolas públicas se quando um garoto quebra a perna não há ortopedista que possa lhe atender no posto de saúde mais próximo?
São alguns questionamentos que trazem à tona a nossa responsabilidade neste momento. A festa, a alegria, a diversão, tudo isso faz parte da celebração de uma vitória magnífica da nossa população. Acontece que sempre chega a hora de arregaçar as mangas e voltar ao trabalho. E, neste momento, é imprescindível que a população fique atenta aos desdobramentos. Até por que excesso de otimismo, com frequência, torna-se excesso de “oba-oba”.